O menu foi refeito há menos de um mês pelo chef Xavier Sabate Moreira, com um curriculum aos 29 anos, de fazer inveja. Ainda no primeiro semestre do curso de Cozinha, na Escola de Hotelaria de Lisboa, foi para o Bairro Alto fazer bifanas e cachorros. Era só o primeiro degrau de um trajeto que seguiu mais tarde, pelo Tavares Rico, Narcissus, Alentejo Marmoris Hotel & Spa, Bica do Sapato, YesHotel e o espanhol (Bizkaia), Azurmendi Restaurant, dono de 3 estrelas Michelin.
“Quis manter a grastronomia portuguesa intacta, usar produtos nossos (nacionais) e provocar um contraste com leve acidez, em alguns pratos”. Concordei com o Chef em mais uma das entradas do cardápio, o Paté de Galinha com Mini Brioche e Picles de Maçã e Courgette. Experimentei colocar um pedacinho do paté numa das lâminas de maçã, o sabor foi xeque mate de primeira, a acidez da maçã combinava com o gosto mais denso do paté. O rei, ou melhor o meu estômago, já tinha sido conquistado.
O moderno e o tradicional combinam-se nas duas salas do Maria do Carmo. Um bistrô constituído por dois corredores de mesas, com vista para a sala principal, um espaço com mesas clean, detalhes florais no teto e nas mesas e peças tradicionais portuguesas; uma das paredes é totalmente ocupada pelo nome do restaurante, merecido! Daqui, a vista é para fora, é fácil acompanhar a troca de guarda do Quartel do Carmo, pertencente à Guarda Nacional Republicana. E mesmo ao lado, um dos monumentos, que eu considero particularmente, mais bonitos da cidade, o Convento do Carmo.
Boa vista, boa mesa e boa cama. Mas de cama falarei em outra crónica mais pontual, já que os quartos merecem uma atenção especial. Num deles há uma daquelas banheiras pra ficar sem hora pra sair, imaginam já, né? Loucura da boa!!!!
Entre os pratos principais que mais me chamaram a atenção está Garoupa com ameijoas em molho de natas e legumes. Se o Chef Xavier Sabate estava à procura de história em suas criações, ali havia uma! Levemente temperada, a garoupa me levou à minha infância, aos dias que passava com os meus avós na casa de praia ao pé do mar. Fresca, com sal no ponto certo e um sabor a mar e boas lembranças. Touché Chef, esse foi o pico alto do meu almoço no Maria do Carmo.
Para os carnívoros como eu, tem o Carré Borrego em Crosta de Pão Ralado e Estufado de Grão de Bico com legumes baby. Vale a pena deixar-se de cerimonias e comer com a mão, sabe tão bem. É a dica de quem não se importa de usar as mãos, sem perder a elegância claro!
Curiosa para provar as sobremesas da casa, fechei os olhos para a dieta. A Tarte Tartin com Gelado de Baunilha e Crumble de Avelã e Caramelo, tem gosto de inverno e aconchego. Mas foi na Tarte de Limão Merengada que me perdi por completo. Porque?! Vou por partes e bem direta ao assunto, que doce é uma coisa muito séria na minha lista de critérios de um restaurante. A massa da tarte é lúcida, sem ar e leve no sabor para dar protagonismo ao creme de limão que, nas mãos erradas pode pecar por exagero, mas aqui deixa um rasto ácido quebrado pelo merengue. Gente do céu! Uma das maravilhas dignas de estarem no paraíso. Para terminar a minha degustação, aceitei o desafio do diretor do hotel, como boa “chocolatuda” que sou, aceitei provar o Fondant com Granizado com Frutos Vermelhos, Iogurte Natural e Frutos Silvestres. Primeira colherada, aquilo era bom demais pra ser verdade!!! Foi a cereja no topo do bolo sem mais “rasgações de seda” ao menu. Posso afirmar que é um dos melhores restaurantes de Lisboa. O fondant encerrou um almoço de sete garfos com cinco estrelas. O granizado de frutos vermelhos voltou a mostrar a assinatura meio ácida deste jovem Chef, com sorriso de miúdo e mãos experientes. O Maria do Carmo é, sem duvida, um lugar para ir e voltar!
morada: R. da Oliveira ao Carmo 1, 1200-307 Lisboa
Reservas: 21 326 4710
Preço menu executivo: a partir de 16€